Além da radioterapia, muitos dos medicamentos utilizados nas terapias podem levar a perda auditiva
O Brasil terá 625 mil novos casos de câncer por ano até 2022, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca). Em 2018, a doença foi responsável pela morte de 9,6 milhões de pessoas em todo o mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Mas você sabia que existe uma relação entre a perda auditiva e o tratamento da doença?
Atualmente, as modalidades mais comuns de tratamento para o câncer são cirurgias, quimioterapias e radioterapias. Ainda que – felizmente – tenham resultados significativos para a cura de pacientes, sobretudo quando usadas precocemente, as terapias não estão livres de efeitos colaterais. Além dos mais conhecidos, como perda de cabelo e náuseas, a perda da audição ou o surgimento de zumbidos também estão relacionados ao tratamento.
“A grande maioria dos pacientes que fazem acompanhamento oncológico apresentam alguma deficiência auditiva, seja durante ou após o tratamento”, afirma Márcia Bonetti, fonoaudióloga e responsável técnica da Audiba Aparelhos Auditivos. “O uso contínuo de medicamentos fortes e a exposição à radiação são muito prejudiciais para a audição”.
Isso ocorre porque muitos dos medicamentos utilizados na oncologia são considerados ototóxicos, ou seja, capazes de lesionar estruturas da orelha interna, prejudicando as funções auditiva e do equilíbrio.
Somado a isso, a radioterapia também é capaz de lesionar o órgão responsável pela audição, já que as medicações “atacam” as células receptoras da cóclea, parte auditiva do ouvido interno, o que diminui sua função de transmissão do estímulo auditivo. Já a radiação realizada na região da cabeça e dos ombros pode causar um acúmulo de líquido no ouvido ou impedir a passagem de ar devido ao inchaço causado pela terapia. Em ambos os casos, pode haver a perda de audição.
Fora a perda em si, outros sintomas, como zumbidos, tonturas ou desequilíbrio, podem ser indicativos de algum problema. Os danos podem ser desde leves até agressivos. Na maioria dos casos, contudo, são irreversíveis, uma vez que causam falhas nos condutores nervosos do ouvido interno. Ainda, em geral, fatores como idade, predisposição genética, dose e duração do tratamento podem interferir no grau da perda.
“Hoje, todos os medicamentos causam efeitos adversos, não sendo diferente com os de uso oncológico. Por isso, caso o paciente esteja em tratamento ou apresente algum dos sintomas, é importante procurar ajuda de um especialista o mais rápido possível e fazer os exames necessários”, ressalta a fonoaudióloga.
Se por um lado as perdas são, normalmente, irreversíveis, por outro, possuem tratamentos que podem proporcionar uma melhor qualidade de vida aos pacientes. Além do uso de aparelhos auditivos, há cirurgias capazes de recuperar a perda, caso não haja adaptação à órtese.
“Com o avanço da tecnologia, os aparelhos se tornaram cada vez menores e mais potentes, ainda que haja resistência sobre seu uso. Atualmente, existem até mesmo modelos com Bluetooth, com a possibilidade de conexão a celulares, por exemplo, agregando mais facilidade e qualidade ao paciente”, afirma Márcia.
Além do acompanhamento médico, a especialista reforça a importância de se buscar outros profissionais, como fonoaudiólogos e audiologistas. Assim, os especialistas podem avaliar os efeitos da ototoxicidade e oferecer os tratamentos voltados à reabilitação auditiva mais adequados para cada caso.